Embora gostasse que um dia ele voltasse, sinto que ele escolheu ir morrer longe de casa.
Era um cocker dourado, de rabo comprido.
Era um cão charmoso, elegante, e embora com 13 anos e alguns problemas de coluna, não deixava de dar o ar da sua graça. Era um cão especial, intuitivo, sensitivo, era um cão diferente... era o meu cão!
O Donky entrou na minha vida tinha eu 15 anos. Era sem dúvida o meu melhor amigo aqui na Terra, o meu confidente. Foi com ele que partilhei muitos momentos de dor e tristeza, lambeu-me muitas lágrimas... mas também me deu muitos sorrisos! Ainda me mordeu uma vez. Mas, quem me mandou a mim contrariá-lo? O bicho não gostava de tomar banho... :)
Enfim, vivi de tudo com este menino... até ao último dia!
Estava sozinha, os meus pais estavam de férias. Tinham ido no dia 5 de Julho para o Algarve e cá fiquei eu a tratar de tudo como é o hábito. Na semana antes, ele tinha tido um pequeno acidente aqui na rua. Um senhor deu-lhe um toque com o Jipe, porque ele meteu-se atrás do carro quando o senhor ia fazer marcha-atrás e não o viu. Ele já não estava bom das patas de trás, ficou afectado também das patas da frente. Mas foi mais do que isso! Depois dos meus pais se irem embora é que me apercebi do seu verdadeiro estado: ficou muito mais sensível, muito triste, muito quieto, assustadiço, parecia que estava sem ouvir e sem ver. Confesso que a falta que ele sentia do meu pai, da companhia e dos passeios, também não ajudava. Dei com ele várias vezes na casa-de-banho, deitado junto às botas do meu pai... as saudades apertavam!
Mas o estado débil dele era grande, tinha muito pouca força, andava muito devagar, quase não conseguia subir e descer escadas. A comida, eu começava sempre por dar-lhe à boca e depois então ele continuava sozinho.
Perguntei-me muitas vezes, questionei Jesus: se o Donky morrer agora, o que é que eu faço?
A única coisa que conseguia fazer nesses momentos era chorar. Chorar a dor de o perder, chorar pela impotência que sentia por não saber o que fazer, por não conseguir fazer muita coisa para o ajudar... mandar abatê-lo para mim estava fora de questão, fosse porque razão fosse. Queria ficar com ele até ao último momento, mas deixando a natureza seguir o seu rumo natural.
Lembro-me de que, quando fiz o Nível 2 da Alexandra Solnado, no exercício do Cadeirão, a dor que mais me doeu e me fez chorar a sério, foi mesmo a dor de perder o meu cão.
Adiante. No sábado dia 12 ele estava um pouco melhor, fui com ele dar a volta da manhã, com muita calma, dei-lhe o pequeno-almoço, água, ficou muito tranquilo e sereno. No Domingo teve o que chama "as melhoras da morte". Mas claro só me apercebi disso depois...